Raio X do Oriente Médio
Aferganistão
Como foi o ataque de domingo
"Tomei conhecimento no começo da tarde de hoje das operações militares realizadas contra alvos no Afeganistão.
Este é um momento grave, ainda que esperado diante da brutalidade dos ataques terroristas do dia 11 de setembro.
Em nome do presidente George W. Bush, o secretário de Estado Colin Powell telefonou-me para informar que essas operações visam exclusivamente objetivos militares e que procurarão poupar a população civil. O secretário de Estado transmitiu o agradecimento do presidente Bush pelo apoio e solidariedade do Brasil aos Estados Unidos na luta contra o terrorismo.
Quero reiterar que esta luta é de toda a comunidade internacional e não comporta hesitações, nem transigência.
A vocação de paz do povo brasileiro e seu repúdio ao terrorismo são preceitos constitucionais que orientam a política externa do país.
Nossa posição é clara. Se repudiamos o terrorismo em todas as suas formas, e quaisquer que sejam suas origens, estamos também do lado da racionalidade e da sensatez.
Este não é um conflito deflagrado contra um povo, um Estado ou uma religião. O objetivo é um só: conter e eliminar o flagelo do terrorismo.
Espero - e tenho a certeza de que este propósito é por todos compartilhado - que as operações iniciadas hoje não tenham conseqüências trágicas e procurem evitar a perda de vidas inocentes e preservar a população civil. "
Míssil Tomahwak dirigido contra base do Taleban é lançado do navio de guerra dos EUA USS Philippine Sea
Foto do bombardeiro B-2 Spirit stealth da força aérea dos EUA, utilizado nos ataques contra o Afeganistão
Os Estados Unidos e a Grã-Bretanha lançaram neste domingo fortes ataques aéreos e com mísseis contra bases, aeroportos e campos de treinamento no Afeganistão, iniciando a ofensiva para caçar e destruir aqueles que são apontados como responsáveis pelos ataques do mês passado a Nova York e Washington.
Autoridades do Pentágono informaram que 15 bombardeiros, 25 aviões de combate e 50 mísseis de cruzeiro Tomahawk fizeram parte da primeira onda de ataques. Submarinos britânicos lançaram mísseis de cruzeiro.
O presidente norte-americano, George W. Bush, disse que os radicais islâmicos que governam o Afeganistão estão prestes a "pagar o preço" por apoiar o terrorismo e dar abrigo a Osama bin Laden, acusado por Washington de ter planejado os ataques de 11 de setembro, que mataram cerca de 5,6 mil pessoas no World Trade Center e no Pentágono.
Testemunhas disseram ter visto clarões e escutado explosões em Cabul, capital do Afeganistão, e nas cidades de Kandahar e Jalalabad na primeira fase do que os Estados Unidos dizem que será uma guerra de amplo alcance contra o terrorismo e os países que o apóiam.
Quatro horas mais tarde, outra onda de ataques e explosões atingiu Cabul, e o governo local respondeu com artilharia antiaérea.
Falando da Casa Branca, Bush disse que a operação, batizada de "Liberdade Duradoura", foi desenhada para inicialmente "interromper o uso do Afeganistão como base de ações terroristas e para atacar a capacidade militar do regime do Taleban".
"Destruindo os campos e interrompendo as comunicações, nós vamos tornar mais difícil para a rede de terror treinar novos recrutas e coordenar seus planos maldosos", disse o presidente dos EUA.
Um representante do Taleban no Paquistão disse que os ataques dos EUA e do Reino Unido contra o Afeganistão causaram a morte de muitos civis. Embora tenha relatado a ocorrência de mortes, o embaixador se negou a dizer o total de baixas, apenas informou que o número era "enorme". A Aliança do Norte, que faz oposição ao Taleban, disse que os ataques foram precisos.
Bush disse que, no início, Osama bin Laden --principal alvo de Washington nos ataques-- e sua rede de terror poderão se esconder em cavernas. "Nossa ação militar também é designada para abrir o caminho para operações sustentadas, abrangentes e sem concessões para trazê-los para a Justiça", disse.
Residentes da cidade de Kandahar disseram que houve pânico na cidade, que é o centro espiritual do Taleban e base do mulá Mohammad Omar, protetor de bin Laden.
"As pessoas estão tentando fugir", disse à Reuters um dos moradores. "Eles estão muito assustados e com muito medo".
O correspondente da Reuters Sayed Salahuddin disse que ouviu pelo menos quatro explosões na primeira onde de ataques a Cabul. "Uma grande coluna de fumaça está se formando, e ela parece muito grande".
Uma grande explosão atingiu o Ministério da Defesa do Taleban, ao sul do palácio presidencial. A eletricidade da cidade foi cortada quase imediatamente. Outras testemunhas relataram duas investidas contra uma importante base de comando do aeroporto de Kandahar.
Vivos
O embaixador do Taleban no Paquistão disse que Bin Laden e o mulá Omar sobreviveram à primeira onda de ataques.
Em seu primeiro pronunciamento após os ataques de 11 de setembro, Bin Laden apareceu num videoteipe transmitido por uma televisão de Catar vestindo farda e ao lado de um rifle AK-47. Aparentemente, o vídeo foi gravado antes dos ataques norte-americanos. Bin Laden exalta as mortes dos norte-americanos e classifica o presidente Bush de "chefe dos infiéis".
"Eis a América atingida por Deus todo-poderoso em um de seus órgãos vitais, então seus maiores edifícios estão destruídos. Graça e gratidão a Deus. A América está tomada de horror de norte a sul e de leste a oeste e, graças a Deus, o que a América está provando agora é apenas uma cópia do que nós provamos", disse ele.
"Cada muçulmano precisa se levantar para defender sua religião. O vento da fé está soprando e o vento da mudança está soprando para remover o mal da Península de Maomé, que a paz esteja sobre ele", disse Bin Laden, num pronunciamento desenhado claramente para levantar a fúria dos muçulmanos de todo o mundo.
O secretário de Defesa dos EUA, Donald Rumsfeld, disse que o objetivo da operação é reforçar a oposição afegã, que tem lutado há anos contra o Taleban, que controla cerca de 90% do país.
Depois que começaram os ataques aéreos, a oposição afegã lançou bombas contra as posições do Taleban no norte de Cabul.
O Departamento de Estado dos EUA alertou os americanos que estão fora dos Estados Unidos que os ataques contra o Afeganistão podem levar a retaliações contra os interesses de cidadãos norte-americanos.
Bush fala em apoio global
Em mensagem transmitida da Casa Branca pela televisão, Bush disse que os ataques visam atingir instalações militares e que os EUA também lançarão alimentos para o povo afegão, para demonstrar que a guerra não é contra as pessoas comuns.
"Fomos acompanhados nesta operação por nosso amigo próximo, a Grã-Bretanha", disse Bush, acrescentando que diversos outros países também prometeram ajudar nas operações. Ele pediu calma aos norte-americanos e aliados, dizendo que esta guerra não terminará rapidamente.
"Mais de 40 países do Oriente Médio, África, Europa e Ásia deram permissão para usar o espaço aéreo ou pousar (em suas terras). Muitos outros estão partilhando seu aparato de inteligência. Nós estamos sendo apoiados por um desejo coletivo no mundo", disse ele.
Ataque seguiu-se a ultimato
O ataque contra o Afeganistão aconteceu horas depois de Washington ter rejeitado uma oferta do Taleban para julgar Bin Laden. O milionário de origem saudita é acusado pelos EUA de ser o mentor dos ataques com aviões de 11 de setembro. Bin Laden, 44, militante muçulmano extremista, desafia os esforços norte-americanos por sua captura há anos. Vive sob proteção do Taleban desde 1996.
Ele também é acusado pelos ataques de 1998 contra embaixadas norte-americanas na Tanzânia e no Quênia, além do ataque contra o navio USS Cole no Iêmen.
Bush fez um ultimato ao Taleban uma semana antes do ataque, exigindo a entrega de Bin Laden e dos comandantes de sua organização, a al-Qaeda, além da abertura dos campos de treinamento para inspeção internacional.
A oposição no Afeganistão, a Aliança do Norte, disse ter atendido ao pedido dos Estados Unidos de se preparar para o ataque. Os habitantes de Cabul foram advertidos para ficar longe de instalações militares.
O Taleban foi isolado politicamente e está praticamente cercado de inimigos. O movimento está reagindo com uma mistura de rebeldia e tentativas de conciliação. O Taleban disse que mais 8 mil homens estão sendo enviados à fronteira com o Uzbequistão, no norte.
"Despachamos nossas forças para todos os lugares importantes. Isso é uma questão de auto-respeito, nunca nos curvaremos diante dos americanos e lutaremos até o fim", disse um porta-voz do Taleban, segundo a agência de notícias Afghan Islamic Press.
O terrorista saudita Osama bin Laden , acusado de promover os atentados do dia 11 de setembro, apareceu hoje na TV Al Jazeera para fazer um discuro, onde declarou que "a guerra contra o Afeganistão é uma guerra contra o islã".
"Os que vivem na América nunca vão se sentir seguros até que nós tenhamos a nossa terra: a Palestina", disse. "Deus deu a eles o que eles mereciam. Eles sentiram em um dia o que sentimos durante décadas."
Bin Laden criticou a política dos Estados Unidos em relação aos palestinos e os bombardeios ao Iraque, que acontecem eventualmente desde a Guerra do Golfo. "A América é a mentora de todos os crimes, e nunca ouvimos nada contra isso", disse.
Os EUA deram início hoje à ofensiva militar contra o Taleban, atacando bases do grupo no Afeganistão.
"A América foi tomada pelo terror do norte ao sul e do leste ao oeste e, graças a Deus, o que a América está provando agora é apenas uma reprodução do que nós experimentamos", disse Bin Laden em uma gravação exibida hoje pela televisão Al Jazeera.
"Nossa nação islâmica tem experimentado o mesmo por mais de 80 anos", disse ele, afirmando que o presidente norte-americano, George W. Bush, é o "chefe dos infiéis". "Deus abençoou um grupo da vanguarda muçulmana para destruir a América e que Deus possa abençoá-los e reservar para eles um lugar no céu", completou.
"Eu juro por Deus que a América não viverá em paz antes que a paz reine na 'Palestina'", disse Bin Laden.
Os Estados árabes apóiam a criação de um Estado palestino dentro de Israel, desde 1967, quando foi criado o Estado israelense. No ano passado, o governo de Israel e o líder palestino Iasser Arafat estiveram perto de um acordo para a criação do Estado da Palestina, mas a falta de um consenso em torno da divisão de Jerusalém (capital de Israel e reivindicada pelos palestinos) e dos campos de refugiados palestinos acabou impedindo o acordo.
A televisão Al Jazeera disse que as declarações de bin Laden foram gravadas após 11 de setembro, mas não informou uma data específica.
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