KNEBWORTH, Inglaterra -- O que um avô não faz para agradar a um neto?
Harris, na pele de Dumbledore: intimação da neta
Sob ameaças da pequena Ella, o veterano ator Richard Harris, de 71 anos, aceitou o papel do Professor Dumbledore em "Harry Potter e a Pedra Filosofal" sem sequer ler a obra da escocesa J.K. Rowling, em que o filme se baseia, e com a certeza de que não querer se comprometer com a filmagem de mais seis longas-metragens inspirados nas aventuras do bruxo adolescente.
"Não era porque eu não tivesse gostado do material ou das pessoas envolvidas no projeto", explicou Harris. "Eu apenas não gosto da idéia de que, se você disser 'sim' e fizer (o filme), vai estar comprometido com os sete filmes, se eles fizerem os sete", complementou.
"Eu odeio esse tipo de compromisso, odeio a idéia de ter a minha vida restrita, de alguma forma... Foi por isso que meus casamentos fracassaram: eu odeio compromisso, e não sou nada confiável", afirmou o ator, divorciado duas vezes.
Mesmo assim, a palavra final foi da neta Ella.
"Ela me ligou e disse, 'se você não fizer, vovô, eu não falo com você nunca mais', e eu pensei que não ia agüentar isso, então teria que fazer (o filme)."
Foi assim que Harris se viu na pele do mentor de Harry Potter, e renovando sua legião de fãs em cerca de duas gerações.
O ator conquistou sua primeira indicação ao Oscar há 38 anos, como o jogador de rúgbi de "This Sporting Life", de Lindsay Anderson. A segunda veio 27 anos depois, em 1990, com "Terra da Discórdia", de Jim Sheridan.
Nos anos 60, Harris apareceu ao lado de Marlon Brando em "O Grande Motim" e encarnou o Rei Arthur em "Camelot", ao lado de Vanessa Redgrave. E na última década, o ator esteve em dois filmes que ganharam o Oscar: "Os Imperdoáveis", de 1992 e, no ano passado, "Gladiador", no qual viveu o imperador Marcus Aurelius.
Assim, não deixa de ser surpreendente o fato de Harris criticar a profissão que tão bem serviu a ele e seus filhos -- sim, os três filhos do ator estão no cinema, Jared e Jamie como atores e Damian como diretor.
"Olha", diz ele, "quando eu me comprometo com um filme, eles me arrastam para o avião e me levam gritando para a locação, e aí eu fico pensando por que estou fazendo aquilo se não preciso do dinheiro", revela. "Só que quando eu chego no set, não há outro lugar no qual queira estar."
Só que quando o filme acaba, ele não quer mais saber de nada.
"Quando acabamos, eu sempre digo para os atores à minha volta que tivemos momentos ótimos, bons fins de semana juntos e divertidas bebedeiras, mas o filme acabou. Digo para não me ligarem, porque eu nunca vou retornar suas ligações."
O fato de Harris morar nas Bahamas, longe de Hollywood, ajuda. É por isso, explica, que ele diz a seus colegas que nunca mais vai vê-los novamente, tira sua jaqueta de ator e veste sua "roupa de Dickie Harris".
"Eu não sou esquizofrênico, sou?"
Essa facilidade de "desligamento" também se deve ao fato de que Harris -- ao contrário de muitos astros -- nunca se apegou a uma única imagem nas telas, mesmo que sua vida fora delas tenha produzido momentos memoráveis para o público.
Tanto que suas aparições em "Harry Potter e a Pedra Filosofal" e em "Gladiador", são chamadas de uma "volta triunfal", reclama ele. "E eu digo, 'que volta'? O que isso significa, volta? Então eu fiz um filme de sucesso, mas e daí? Não é esse o nosso trabalho."
Mas ele gosta. "Acho fascinante o fato de eu estar em um filme de sucesso, como foi 'Gladiador' e, acho eu, 'Os Imperdoáveis'."
E seja qual for a reação da crítica, a série "Harry Potter" deve manter o ator ocupado até sua chegada aos 80 anos.
"Isso é para sempre!", observa Harris, que se lembra de conversar com seu empresário para saber como ele pode minimizar o risco de um compromisso que pode ocupar o resto de sua carreira.
"Ele me ligou de volta e disse: 'você pode sair dessa', e eu pedi para ele me dizer como... Ele respondeu:" -- Harry sorri -- "morrendo!".
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