MARRAKESH -- Ministros das áreas de energia e meio ambiente de cerca de 160 países chegaram a um acordo, neste sábado, sobre o esboço do tratado que pretende limitar o aquecimento global, com previsão de que o pacto seja implementado em 2002.
O chefe da delegação russa na conferência promovida pelas Nações Unidas no Marrocos comentou que o acordo, que diz respeito aos termos legais do Protocolo de Kyoto, de 1997, possibilita a ratificação por parte de Moscou.
"Isso abre caminho para que todos os países assinem, inclusive a Federação Russa", declarou Alexander Bedritsky.
Desde que os Estados Unidos abandonaram, em março, o pacto que reduz a emissão de gases poluentes na atmosfera, sua adesão por parte da Rússia e do Japão passou a ser essencial para que o acordo entrasse em vigor.
O Japão também deu a entender que endossará o acordo. "Nosso gabinete terá que decidir, mas, pessoalmente, acho que temos um pacote muito bom", reagiu o ministro do meio ambiente Yoriko Kawaguchi.
Pelo Protocolo de Kyoto, os países industrializados comprometeram-se a reduzir, até 2012, a emissão de dióxido carbono em cinco por cento, levando-se em conta os níveis de 1990. A substância é a principal responsável pelo aquecimento global.
O anúncio deste sábado, alcançado após duas semanas de difíceis negociações, propiciou um guia detalhado de regras sobre o complexo acordo.
"É um dia memorável para o meio ambiente, após quatro anos negociando Kyoto", expressou o ministro do meio ambiente britânico, Michael Meacher.
O representante-chefe da União Européia, Olivier Deleuze, reforçou o otimismo dos participantes da conferência: "Estamos bastante confiantes na salvação do Protocolo de Kyoto".
Os 15 membros da União Européia disseram que vão ratificar o Protocolo em 2002. Entretanto, o tratado tem que ser assinado por pelo menos 55 países que eram responsáveis por 55 por cento da emissão de gás carbônico na atmosfera há 11 anos.
"À exceção dos Estados Unidos, estou certo de que todos os países ratificarão", disse Deleuze, que é ministro da Energia da Bélgica. "Quem não ratificar, será por motivos políticos".
"Créditos de carbono"
O objetivo do tratado é inibir o que os cientistas da ONU dizem ser o aquecimento artificial da Terra e suas conseqüências: a elevação do nível dos mares, o degelo das calotas polares, a mudança no padrão das chuvas e ocorrência mais freqüente de enchentes e secas. Após a deserção dos Estados Unidos - o presidente George W. Bush alegou que o pacto era prejudicial à economia do país -, todas as atenções voltaram-se para Rússia e Japão.
Nas horas finais da conferência, estes dois países, assim como Austrália e Canadá, rejeitaram cinco pontos relacionados ao funcionamento dos mecanismos de mercado.
Tais mecanismos têm o objetivo de ajudar os países a atingir suas metas através da compra ou venda de "créditos de carbono" em um mercado financeiro internacional ou reduzir sua cota através da expansão de florestas.
Bush disse que o governo norte-americano está elaborando seu próprio plano para conter a emissão de gases poluentes e anunciou um pacote de verbas para mais estudos sobre o assunto.
Só que Washington vem repetidamente atrasando a divulgação do plano e a principal representante dos Estados Unidos em Marrakesh, a subsecretária de Estado Paula Dobriansky, admitiu não haver prazo para a conclusão dos estudos.