Taty
Nossa.. hoje eu fui no shopping, já comprei a minha agenda 2002.. acho que é pq quero que chegue logo.. É das meninas super poderosas hehehe...
Ah, não tô escrevendo muito pq tô arrumando o blog... O endereço da HPG (http://www.magicalchaos.hpg.com.br) continua funcionando mas o mais rápido agora é o http://www.magicalchaos.cjb.net :) É o que é melhor... praticamente sem banner!!!
'Harry Potter' é escola de bruxos sem mágica


NOVA YORK - O mundo pode ainda não estar pronto para o equivalente cinematográfico de livros em áudio, mas este fenômeno peculiar chegou na forma da adaptação para o cinema de "Harry Potter e a Pedra Filosofal" de J.K. Rowling.

O filme mais aguardado do ano tem uma competência monótona, literal, seguindo fielmente o que foi escrito pela autora. Mas tudo é silenciosamente floreado, com prazeres momentâneos, como Gringotes, o banco onde trabalham os duendes e que se parece como uma sobra de Gaudí(arquiteto espanhol).

O filme é tão cuidadoso que até mesmo a fita adesiva que segura os óculos de Harry parece ter sido produzida pela direção de arte. (Nunca ocorreu a ninguém mostrar a ele como amarrar a armação.)

O filme parece uma apresentação de uma banda cover extremamente competente -não a coisa verdadeira, mas uma simulação incrível- e há um público para este tipo de coisa. Mas assistir "Harry Potter" é como ver "Beatlemania" no Hollywood Bowl, onde os gritos do público abafam seja lá o que estiver transcorrendo no palco.

Chamar este filme de desavergonhado não vem ao caso. Provavelmente seria igualmente equivocado reclamar sobre a falta de originalidade do filme

porque (a) presume-se que o público alvo não quer algo novo e (b) os livros de Rowling canibalizam e sintetizam a mitologia da cultura pop, prova da ética do "nada se perde, tudo se transforma". Ela apresentou algo como "Guerra nas Estrelas" para uma geração que nunca teve a chance de se impressionar com sua grandiosidade, mas isto é "O Jovem Sherlock Holmes" como foi escrito por C.S. Lewis a partir de uma história de Roald Dahl. O diretor, Chris Columbus, é tão adepto quanto Rowling em emendar mitos culturais em um todo duvidoso.

O filme começa com uma cena de uma placa de rua que fará o feliz público jovem saltar em reconhecimento, enquanto o gigante Hagrid (Robbie Coltrane) e a professora McGonagall (Maggie Smith) deixam um bebê na porta dos Dursley. Anos depois, Harry (Daniel Radcliffe), exibindo o sinal em forma de raio na sua testa, está vivendo lá com os terríveis tios (Richard Griffiths e Fiona Shaw).

Harry é a criança que todas as crianças sonham que são. Suas habilidades especiais são reconhecidas apenas por pessoas diferentes daquelas que o

criaram. Hagrid volta para resgatá-lo de seu minúsculo quarto sob as escadas, indica ao menino sua força interior, o motivo dele não se enquadrar no mundos dos "trouxas", os não-mágicos e descrentes.

É mostrado para Harry o caminho para Hogwarts, um internato para feiticeiros comandado pelo professor Dumbledore (Richard Harris), onde Harry faz amizade com o desajeitado mas decente Ron (Rupert Grint), e com a mandona e precoce Hermione (Emma Watson). Os instrutores, que comandam as salas de aula com vários graus de imperiosidade, incluem o azedo Snape (Alan Rickman) e o gago Quirrell (Ian Hart).

O elenco é excepcional, dos pequenos papéis para cima; parece que todo os atores britânicos que trabalharam nos últimos 20 anos aparecem no filme.

John Hurt destoa como um excessivamente enérgico vendedor de equipamentos de magia, orientando Harry na seleção de seus instrumentos. Enquanto compra seus equipamentos mágicos, Harry encontra a Pedra Filosofal, uma jóia enfeitiçada cujo poder afeta seu primeiro ano na escola de feiticeiros.

Radcliffe tem um papel impensavelmente difícil para um ator infantil; tudo o que precisa fazer é parecer encabulado quando alguém se volta para ele e diz que ele poderá se tornar o maior feiticeiro que já existiu. Ele poderia ficar acanhado por ter obtido o papel graças à semelhança com o Harry das ilustrações de capa dos livros. É um fardo terrível para se colocar nas costas de uma criança, mas o fato de Radcliffe não ter a expressão pesarosa de um astro pop dos anos 1960 ajuda. Ele também possui gravidade assistível e, surpreendentemente, as mãos grandes e autoritárias de um feiticeiro de verdade.

As outras crianças também brilham. Watson tem a sagacidade e o modo franco de falar que sugerem que ela poderá enfeitiçar Harry no futuro e, como alguém supõe, nas seqüências. Grint tem a surpreendente qualidade de uma pessoa comum, mas quem rouba a cena é Tom Felton, como Draco Malfoy. Este loiro ameaçador com um bico de viúva é o adversário de Harry, e tem a autoconfiança enraizada de um dos estudantes universitários do terceiro ou quarto ano de "Se..." de Lindsay Anderson. Nunca houve uma criança com tanto prazer em dizer seu nome estranho.

Shaw e Griffiths são adoravelmente porcos, os "trouxas" mais resolutos. Rickman, cujo penteado alcaçuz tem o balanço dos cabelos de um anúncio de xampu, é um professor ameaçador que diz seus monólogos com um toque de inventividade; suas narinas se abrem de forma tão atlética que ele parece estar fazendo ioga tântrica com seus seios cranianos. O enormemente adorável Coltrane é realmente uma figura de contos de fadas com o qual as crianças sonham.

A cena mais divertida do filme apresentas um chapéu falante. O Chapéu Seletor, que tem mais personalidade do que qualquer outra coisa no filme, indica para qual dormitório irá cada aluno; ele coloca Harry, Ron e Hermione juntos. Mas as demais cenas são decepcionantes.

Considerando que agora os filmes podem mostrar tudo, as manifestações descritas por Rowling só poderiam ser menos mágicas se fossem apresentadas em uma coletiva de imprensa. A entrada tão aguardada quanto a aparição de Harry -a chegada do arquivilão Voldemort (Richard Bremmer)-é uma decepção, um efeito especial que só serve para lembrar o quanto ele está à sombra de Darth Vader.

Este filme familiar é como um parque temático que já começa a envelhecer; os brinquedos batem e rangem devido à fadiga do metal toda vez que fazem uma curva. A própria imperfeição do filme o torna assustador, o que não é o mesmo que dizer que o filme é intencionalmente perturbador.

Ninguém deu a Harry um par de Nikes edição Hogwarts, nem ele, Hermoine e Ron param em algum McDonald's do campus: exclusões que parecem integridade ultimamente. (Não há necessidade de inserir produtos no filme. A Internet provavelmente ficará congestionada devido a todas as crianças que estarão online para encomendar os cachecóis utilizados por Harry e seus amigos.)

Mas outra exclusão parece incômoda. Em um momento em que Londres está repleta de diversidade, a rara aparição de crianças de minorias é mais assustadora do que Voldemort. (A coruja de Harry, branca como neve e com olhos escuros e penas com pontas pretas, aparece mais na tela do que elas.)

Columbus se esforça ao máximo para dar algumas falas para um menino com cabelos encaracolados. Este filme pode não ser mais branco do que a maioria, mas o fato das minorias de serem deixadas de lado parece particularmente ofensivo em um filme voltado para crianças. Não é diferente dos livros, mas as imaginações jovens automaticamente corrigem esta escassez.

A falta de imaginação domina o filme por este seguir rigorosamente o livro. Alguém lançou um feitiço de sonambulismo nos procedimentos, e após quase duas horas e meia você também pode ser afetado. Seu literalismo faz com que "Harry Potter e a Pedra Filosofal" pareça intimidado pela onipresença assustadora de seu próprio Voldemort, Rowling, que sempre pairou sobre a produção. O filme é tão tímido como uma pessoa que recua quando você estende a mão para cumprimentá-la. Este filme é capaz de um certo tipo de mágica: pode transformar os fiéis em 'trouxas'.